sexta-feira, 4 de maio de 2018

RAÍZES DO ÓDIO

Inimigo comum para expiação da culpa da crise: Períodos de mal-estar/crise produzem insatisfação geral em relação à coisa pública (política, economia, etc.). Diante desse mal-estar, os indivíduos podem ter três posturas:
- Assumir sua parte da responsabilidade e trabalhar para melhorar a sociedade e superar a crise;
- Escapar: fantasia, escapismo – prazer para aliviar a dor (não por acaso, o cinema escapista americano teve nos anos 30 um grande momento);
- Eleger um culpado e combatê-lo (colocar a culpa no outro).
A terceira opção é certamente a mais equivoca, a mais perigosa e, infelizmente, a mais popular. É aí que muitas vezes reside a raiz do ódio.
Estigma do Outro: eleger um “culpado” por todas as mazelas e a ele direcionar o seu ódio – Isso é uma forma de tirar de si a responsabilidade sobre a sociedade em que se vive. Uma democracia só é possível quando cada um é responsável pelo bem comum.
Quando se elege um “culpado”, passa-se a odiá-lo e querer destruí-lo. Isso, além de resultar em crimes contra a humanidade, como o holocausto e todos os demais extermínios da História, é uma ilusão.
É uma ilusão porque um único grupo de indivíduos, seja de judeus, homossexuais, comunistas, esquerdistas ou direitistas, não pode ser culpado por todas as mazelas. Logo, eliminar esse grupo não resolve crise nenhuma.
Em segundo lugar, todo extermínio é uma ilusão, porque nunca elimina de fato o outro. Por mais judeus, homossexuais, esquerdistas ou direitistas que se mate, novos nascerão. Sempre haverá uma minoria de homossexuais e uma maioria de heterossexuais, sempre haverá esquerdistas e direitistas, bem como judeus, cristãos, muçulmanos e umbandistas, bem como toda a sorte de raças e cores e pensamentos possíveis. Pelo simples fato que a pessoas são diferentes. E isso não só é bom, como é de fundamental importância. Os pensadores de esquerda têm a fundamental importância de apontar os erros da direita e os pensadores da direita têm a fundamental importância de apontar os erros da esquerda. Se caminharmos todos para o mesmo lado, o desequilíbrio político fará com que caiamos todos juntos no mesmo abismo.
Assumir uma posição no debate político, ou uma religião, ou uma condição sexual não implica deixar de reconhecer a importância da existência do outro, que não serve para te atrapalhar, mas para te colocar em perspectiva, como parte, e não essência, de um todo.
A postura hedionda do ódio erra, por fim, ao querer eliminar justamente o grande ativo da humanidade, que é a diversidade. É o medo que faz isso, o medo do que não compreendemos e que, portanto, queremos destruir. Assim, adquirir uma postura de respeito ao outro é uma postura libertadora na medida que compreendemos que a liberdade do outro não ameaça a nossa, muito pelo contrário, a liberdade do outro ser o que ele é é a mesma liberdade de eu ser o que eu sou.

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