domingo, 4 de abril de 2021

OS PASTORES E OS LOBOS


"O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas." João 10:10-13

O mercenário não tem cuidado com as ovelhas. Lideranças religiosas que, em plena pandemia, conduzem os fiéis para aglomeração, sob pretexto do culto, não têm cuidado com as ovelhas. Estão condenando muitas delas à morte com isso. Não são pastores.

Estes tempos tão dolorosos nos deram pelo menos isto: a oportunidade de enxergar claramente quem são os verdadeiros pastores e quem são os lobos. São pastores aqueles que orientam seus liderados aos cuidados necessários, consigo e com o próximo. Os que entendem que as atividades religiosas devem continuar de forma não presencial. Os que não reivindicam na justiça o "direito" de colocar sua igreja em risco.

Porque o culto que é atividade essencial para o crente não se dá em construções, mas dentro do coração. Não é preciso sair de casa para que ele aconteça: seu corpo é o templo.

"Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. (...) Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores." João 4:21, 23

Figuras religiosas falam muito em jejum, mas não percebem o óbvio: o jejum que nos é proposto agora não é de comida, mas de sair de casa sem necessidade. Não é sacrifício sem sentido, mas para salvar vidas. Porque, como escrito em Eclesiastes 3, há tempo para tudo nesta vida.

No entanto, desaprendemos a nos adaptar às circunstâncias, não sabemos mais parar. Não conseguimos mais ficar em casa olhando para dentro de si. Somos viciados na agitação da vida que não para, naturalizamos esse estado de coisas e, pior, achamos que temos direito a ele.

Isso é fruto de nosso sistema viciado, em que as pessoas servem à economia, e não o contrário. Em que a sociedade serve o mercado, e não o contrário. Ora, esse modelo de sociedade não funciona mais, se é que já funcionou. Não dará conta do desafio presente, nem dos futuros. O planeta não vai aguentar o ritmo de uma civilização que não sabe parar.

Quanto ao Brasil... Bom, um dos grandes problemas é que aqui há muita gente dizendo "Senhor, Senhor!" e poucos fazendo a vontade do Pai.

"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus." Mateus 7:21

Fazer a vontade de Jesus é amar o próximo, e amar o próximo é preocupar-se com a sua saúde E com seu sustento. É preciso garantir o isolamento para conter o vírus e suas intermináveis variantes. É preciso que as atividades não essenciais que geram aglomeração sejam interrompidas. É preciso socorrer as pessoas que não puderem trabalhar e também os negócios que não puderem se manter. É necessário auxílio emergencial de 600 reais até o fim da pandemia. É preciso, portanto, que os setores mais ricos da sociedade garantam o financiamento do Estado de forma sustentável. Para isso, faz-se mister uma reforma tributária justa, que resulte em um sistema que transfira recursos dos abastados para os necessitados, e não o contrário, como acontece no atual.

Menos do que isso não vai evitar que a presente calamidade continue e se torne ainda pior.