Neste mundo em que vivemos a ilusão da individualidade, a
busca pela harmonização entre o bem estar próprio e o bem estar do próximo, em
busca do equilíbrio desejável, não é tarefa óbvia. Já sabemos que a saúde
emocional pede que separemos o que é nosso do que é do outro. Sabemos também
que a saúde espiritual será maior na medida e que, superando o ego, entendamos
que “eu e o universo somos um”. Ora, a questão que surge, desafiando nosso
entendimento é: há aí uma contradição?
Só aparente. Saber que o que é do outro não é seu não impede
de ajudar esse outro. Pelo contrário, lhe dá uma visão mais nítida para que
essa ajuda seja feita de forma mais segura, dentro do equilíbrio acima
mencionado. Essa medida (não óbvia, como dito) é a que deve ser buscada. É a
melhor para si (pois não nos coloca em posições de sacrifício vão, que nos
prejudiquem ou nos destruam, sem que um bem maior seja necessariamente alcançado)
e também para o próximo. O que é seu é o que te cabe e é possível fazer, e isso
inclui a sua ajuda. Ajudar ao próximo, assim, tem de ter por condição não fazer
mal ao todo, e isso inclui a si mesmo. Caso contrário, alimentamos o ego, ainda
que o de outro. Fazer mal a si é fazer mal ao outro, e ao todo.
Em tempo: o auto-esvaziamento, a kenosis, é a
superação do ego em nome do bem maior. O sacrifício, nesse sentido, nunca será
a regra, mas a exceção: é o abrir mão do próprio interesse quando ele se
contrapõe ao bem maior. Um exemplo bem fácil e atual: abrir mão da liberdade de
sair à rua superfluamente para não contribuir para o agravamento da pandemia.