quinta-feira, 3 de agosto de 2017

FÉ E PROVA

O dilema fé/ciência é puramente ilusório. Pelo menos nestes últimos séculos, essas áreas da existência humana têm seus territórios muito bem delimitados. A ciência é o que nós sabemos. Um saber construído dentro de controles e parâmetros instituídos socialmente. Esse território está em constante mutação: sempre descobrimos coisas novas. Ao mesmo tempo, por vezes descobrimos que não sabíamos o que achávamos saber (os tais controles e parâmetros também estão sempre em constante mutação).

A fé diz respeito a tudo que não sabemos. E, mesmo que o saber cresça constantemente, o não saber é sempre maior. É tolice a fé temer a ciência, pois seu território (da fé) é infinito.

Assim, se um religioso sente constantemente a necessidade de provar cientificamente sua fé, talvez esteja na profissão errada. Talvez seja o caso de se tornar cientista, ou juiz, que decide com base nas provas. Já o operador da ciência, incluindo as ciências humanas, se quer abrir mão das provas e surfar apenas nas convicções, fará um grande favor à coletividade se mudar de profissão.

O mesmo pode-se dizer de um profissional do Direito. Como a civilização consagra, um procurador, que acusa, ou um juiz, que julga um acusado, só podem fazê-lo com base nas provas. Se um desses quiser se abster dessa condição, bem fará em se tornar padre, pastor, curandeiro ou xamã. Ocupações igualmente dignas, em que as provas são dispensáveis e a fé, o bastante.