sábado, 9 de setembro de 2017

ELA É UM RIO

Ela é um rio
É um rio cheio de cores, de vida, de emoção
É um rio cheio de detalhes, e quanta riqueza de detalhes!
Ela é um rio que tem uma história longa
Uma história que eu mal posso imaginar
Um rio cujas dores e alegrias não podem ser contidas
E transbordam por suas margens
Ela é um rio que eu não posso controlar
Ela é um rio que eu não posso e nem devo controlar
Ela é um rio cuja força eu por vezes subestimo
Ela é um rio que eu não preciso controlar
Apenas apreciar e amar,
Do jeito que o rio é,
Foi ou virá a ser
O rio seguirá seu próprio curso
E esse curso será mais perfeito do que qualquer um que eu possa imaginar
Me vou, sem culpa, para longe do rio
Mas sei que sempre vou voltar
Pois eu amo esse rio

PRA ADOÇAR A BOCA

Dia desses, depois do jantar, eu desejei comer um biscoito. "Para sentir um açucarzinho na boca" como meu pai dizia, uns 20 anos atrás, quando me pedia para pegar na cozinha um biscoito de goiaba para ele. Um "enroladinho", como ele chamava. Foi uma época em que todo o dia ele me pedia isso depois do jantar.

Cheguei mesmo a me encher dessa história e por pouco não falei "você não pode ir lá pegar?"  Mesmo assim, nunca cheguei a retrucar. Sempre fui lá e peguei o biscoito sem reclamar. Em parte porque eu ainda não sabia dizer não. Mas, principalmente, porque eu desconfiava que um dia teria saudades dessa fase.

Lembrando disso, me perguntei se eu realmente tinha saudades. Do meu pai eu tenho, claro. Mas de ter que pegar todo o dia um enroladinho para ele? Talvez ele estivesse cansado e não pudesse pegar. Não, isso foi bem antes das dores de joelho, da dificuldade de locomoção. Era por outro motivo que ele pedia para mim. E só então eu entendi.

Todo dia ele me pedia para trazer o biscoito porque esse ato, vindo de mim, era para ele tão doce como o biscoito. Não era só o enroladinho que o alimentava, mas também o meu carinho. Quisera ter entendido na época. Teria entregado cada biscoito com muito mais alegria.

Nessa mesma noite senti meu pai muito perto de mim. Talvez tenha sonhado com ele. Ou talvez tenha sido o seu amor de 20 anos atrás, ainda me irradiando, como o brilho de uma estrela já extinta que chega até nós.

JULIETA OU COMETA

Eu quero falar
Eu quero falar
Eu quero falar
Mas não há ninguém pra escutar
É que entre as pessoas existe uma barreira invisível
Que as impede de se entender e amar
E sentir, e sorrir, e chorar, todos juntos
E então todo mundo
Deixa
Pra


Eu sei que você
Eu sei que você
Pode me dizer
Que é muito difícil tentar
Lutar contra essa tão forte barreira invisível
E eu sei que é porque eu tentei
E doeu, todo mundo tentou me impedir
Me chamando de louco então eu
Deixei
Pra


Por favor, não cometa esse erro
Por favor, não cometa esse erro
Esse erro 
De deixar
Pra