domingo, 14 de setembro de 2008

TRABALHO

Até 1888, nosso país tinha sua economia baseada no trabalho escravo. Essa realidade, ao contrário do que possa parecer, não está muito distante da nossa e, infelizmente, tal postulado não serve apenas para o aspecto cronológico. No Brasil contemporâneo, o trabalho é uma questão com problemas cuja grandeza é diretamente proporcional à urgência de suas soluções.

O século XX foi um período de grandes conquistas dos trabalhadores, notadamente a instituição da CLT, em um momento em que a questão trabalhista deixou de ser caso de polícia, tornando-se uma das preocupações obrigatórias do Estado. Hoje, no entanto, este último pouco se esforça em ver uma realidade ainda carente.

Esse quadro é composto de sérios problemas. O trabalho escravo subsiste sob a égide do poder econômico e militar dos proprietários de terra. De modo semelhante, o trabalho infantil é explícito, no campo e na cidade. Por fim, muitos brasileiros vivem na informalidade, à margem dos direitos adquiridos. Diante disso, como garantir que o trabalho seja uma atividade digna para todos, e não apenas para uma parcela afortunada da sociedade?

O primeiro passo para mudar esses fatos é expor as feridas. Conhecendo os problemas profundamente, a sociedade terá menos propensão a tolerá-los. Nesse sentido, o papel das mídias é fundamental, tanto na denúncia como no debate. Mas o Estado tampouco pode se omitir. É preciso tirar o poder de quem descumpre a lei, fiscalizar e punir severamente quem, por exemplo, explora o trabalho escravo.

O pessimismo, no entanto, talvez seja o maior gerador da acomodação e da omissão. Uma vez que interesses eonômicos e conchavos políticos levam à inércia, os governantes (e também a sociedade) têm de se lembrar que a economia deve servir ao povo, e não o contrário. Em 1888, muitos diziam que a escravidão era uma ferramenta indispensável, um mal necessário. Hoje, não é aceitável que sejamos irresponsáveis e passivos diante de questões sociais e humanísticas. A universalização da dignidade do trabalhador não só é possível, como indispensável para o aperfeiçoamento da democracia ou, em outras palavras, para a "democratização" da democracia.

Leandro Coutinho Murad