quarta-feira, 16 de maio de 2018

CONCEITOS DE CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE

Quase sempre que o termo “bárbaro” é usado, se refere a alguém que não é quem utiliza o termo. Bárbaro é o outro. Mas três visões sobre civilização e barbárie podem explicar posturas diversas, desejáveis ou não, em relação à alteridade.
1) “Civilização é a exterminação dos bárbaros”.

Esse é o conceito mais reacionário e ultrapassado de civilização, mas ainda forte no discurso de muita gente. Segundo ele, em suma, bárbaro é o outro, aquele que não sou eu. Eu posso eliminar o outro porque ele é bárbaro e eu sou civilizado. Tal postura resulta em um círculo vicioso, pois se o bárbaro também pensar assim, também vai me achar digno de ser exterminado. “Que barbaridade!”, direi eu, e então concluirei: “Estão vendo como eles eram bárbaros mesmo?” Essa lógica binária e burra acaba assim gerando conflitos intermináveis ou, quando uma parte é mais forte que a outra, massacres. Foi segundo esse princípio que as potências europeias empreenderam genocídios em suas colônias na África, incluindo o extermínio dos hererós (da Namíbia) pelos alemães, entre 1904 e 1907, que serviu de modelo para o genocídio dos judeus pelos nazistas.

2) “Bárbaro é aquele que acredita em barbárie”.
A definição do antropólogo Lévi-Strauss (1908-2009) é o extremo oposto da anterior, mas também é problemática. Se o conceito de bárbaro não existir, o que dizer de genocídios e campos de concentração?

3) “Bárbaro é aquele que crê que uma população ou um ser não pertencem plenamente à humanidade e merecem tratamentos que eles mesmos recusariam firmemente aplicar a si mesmos”.

Por fim, uma terceira visão sobre civilização e barbárie, de Tzvetan Todorov, é a que defendemos aqui. Essa noção permite entender que a barbarização do outro: sua desumanização. Esta, por sua vez, permite que se cometam contra ele atos bárbaros. Permite, enfim, a aniquilação do outro. Permitiu o Holocausto e demais genocídios de nossa História.

Bibliografia:
GRESH, Alain. “Da Batalha de Termópolis ao 11 de Setembro”. Le Monde Diplomatique Brasil, janeiro de 2009.

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