quinta-feira, 26 de março de 2020

O PATRIOTISMO QUE CONTA


O que é o patriotismo? Palavra gasta, como tantas outras nobres. Mas que agora, finalmente, retoma seu significado verdadeiro. Porque patriotismo nada tem a ver com cores. Não é uma bandeira, uma pintura, um grito, um símbolo, uma obsessão. Não é, muito menos, odiar o estrangeiro. Patriotismo é amar o seu vizinho.

Patriota hoje, é aquele trabalhador dos serviços essenciais, que não podem parar. Patriota é o trabalhador da saúde, da coleta, das farmácias, da segurança, dos restaurantes, dos supermercados. O caminhoneiro, o porteiro, o frentista, o taxista, o uberista, o faxineiro, o gari. “Cumprindo o seu dever e defendendo o seu amor e nossas vidas”, como profetizou Belchior. Patriota é o entregador de comida, levando nas costas uma grande caixa e toda a sociedade, que o tem tratado tão mal.

Patriota, hoje, será aquele que ficar em casa, para não expor a si e aos outros. Patriota seremos a cada compra que higienizarmos, a cada lavada de mão. Lavemos, pois, com amor, cuidado e leveza. Patriota será cada empregador que, tendo condições, pagar seus empregados para ficar em casa. Cada um que o fizer, salvará vidas. Patriota será aquele jovem que fizer compras para seu vizinho idoso e higienizá-las. Patriota será o que fizer o possível, perdoando-se por não poder fazer o impossível.

Patriota serão os governantes, se socorrerem, a contento e sem demora, os pequenos e o médios comerciantes, para que esses tenham condições de pagar salários integrais aos trabalhadores em quarentena. Patriota será aquele que defender o complemento da renda do pobre, a renda mínima do muito pobre, para que nada lhes falte em casa. Patriota será aquele trabalhador que, recebendo para ficar em casa, mantiver o pagamento de seus prestadores de serviço, para que estes também permaneçam em seus lares.

Patriota será o economista que propuser saídas criativas para que se contenha a recessão e evite a fome, sem negligenciar as vidas de idosos e doentes. Patriotas serão as instituições financeiras que ampliarem o crédito aos mais fragilizados, sem segundas intenções usurárias. Patriota serão os representantes da elite que não se opuserem à taxação de suas riquezas, para que não falte ao governo, para que não falte ao mais pobre.

Sejamos gratos, todos os dias, porque o patriotismo a que hoje somos convocados não exige que matemos e nem que morramos. Não exige o derramamento de sangue. Pelo contrário, exige que vivamos e façamos viver. Que, cuidando de nós mesmo, cuidemos do próximo. E que entendamos que, cuidando do próximo, mesmo à distância, cuidamos de nós também. Nossas vidas são inseparáveis. O patriotismo a que hoje somos convocados pode, finalmente, nos fazer pessoas melhores.

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