Aquele que diz "não é minha culpa, eu não votei em fulano" ainda não entendeu o que é viver em sociedade. Não entendeu que uma decisão coletiva é composta por quem votou e por quem não votou na proposta vencedora. Assim, eu posso não ter votado no fulano, mas nós o elegemos. Eu não votei, mas nós elegemos, e eu sou corresponsável pelos rumos da sociedade em que vivo, seja pelo voto, seja pela construção diária do diálogo e de uma realidade melhor. Quem diz "não é minha culpa, eu não queria" simplesmente lava as mãos. Padece, ainda que em menor grau, do mesmo individualismo daquele que se apropria indevidamente de recursos públicos. Não está preocupado em tornar o seu meio melhor, apenas em se isentar de culpa. Ignora que a democracia pressupõe a escolha, e a escolha implica o risco do erro. Quem se abstém de decidir, de assumir posição, de correr o risco do erro, comete o maior dos erros, que é a inércia.
sábado, 2 de janeiro de 2016
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
A NESSECIDADE DE NOS AJUDARMOS
A necessidade de nos ajudarmos não deve ser vista como um peso, um fardo. É uma lei natural da humanidade. Aceitá-la é viver melhor. Não é apenas uma questão de eu ter de ajudar o meu próximo. Isso poderia indicar uma relação assimétrica e pesada. A questão é que nós todos só podemos viver bem se ajudarmos uns aos outros. Melhorar a realidade em que se vive, esse constante imperativo, é uma obra que só é possível com muitos braços. Com a ajuda de muitos, inclusive para que uns percebam e apontem os erros dos outros, para que estes possam ser corrigidos.
Nesse sentido (e aqui é aonde eu queria chegar), tão importante quanto a consciência de que precisamos ajudar os outros é a consciência de que precisamos nos deixar ajudar pelos outros. Porque sozinhos fazemos pouco ou nada, e nos cansamos demais.
Nesse sentido (e aqui é aonde eu queria chegar), tão importante quanto a consciência de que precisamos ajudar os outros é a consciência de que precisamos nos deixar ajudar pelos outros. Porque sozinhos fazemos pouco ou nada, e nos cansamos demais.
terça-feira, 10 de março de 2015
STALINISMO VIRTUAL OU PERCEPÇÃO SELETIVA OU DESLEGITIMAÇÃO DO OUTRO OU UNFOLLOW É VIDA
Nestas
épocas
de
acirramento
político, o excesso de chatice é a
grande
reclamação dos frequentadores do facebook. Os que são de direita
não aguentam os posts de esquerda e os de esquerda não toleram os
posts de direita. Os de centro não suportam ambos. Uma solução
fácil é deixar de seguir os chatos, os que dizem coisas incômodas
e os que pensam diferente de você. É a saída mais confortável,
certamente, mas esse stalinismo virtual tem seu preço.
***
Depois
de alguns unfollows,
esta janela para a realidade passa a exibir a tendência a
que
você mesmo direcionou: um mundo à sua imagem e semelhança. O
problema começa quando você não percebe isso e passa a achar que a
realidade é mesmo assim, do jeito que você quer que ela seja.
Lembro
que, logo após a recente vitória da Dilma nas urnas, uma pessoa
postou: “muito estranho esse resultado... só vejo gente reclamando
por aqui, ninguém comemorando”. Só que, enquanto a timeline
dela era um mar de lamentação e inconformismo, a minha parecia uma
festa do Centro Popular de Cultura da UNE em 1963. Enquanto
isso, a
realidade das urnas mostrava a média entre os dois mundos virtuais
de fantasia.
Por
que essa diferença? Porque o facebook, produto comercial que é, é
programado para mostrar o que você quer ver. Os “deixar de seguir”
e “não quero ver isso” apenas reforçam esse processo. Indo por
essa via confortável, sua “janela” vai ficar tão tendenciosa
quanto uma rede de televisão que seleciona as notícias conforme os
interesses de seus donos.
O
resultado é o reforço da percepção seletiva: como você só vê
opiniões que confirmam o que você pensa, a sua intolerância com as
ideias opostas aumentará. “Como essa pessoa pode pensar isso, se
todo
mundo
diz o contrário? Só pode ser maluco”. A essa altura, já se
esqueceu de
que
todo
mundo
não é todo o mundo.
Não
ouvir o outro, por mais “chato” que ele seja, é deslegitimar o
outro. Deslegitimar o outro é matá-lo, fingir que ele não existe.
É, por exemplo, fingir que todo mundo que votou na Dilma recebe
bolsa família e, por isso, não deve ser considerado. Ou (para não
sair da autocrítica) fingir que qualquer que reclame do governo é
elite burguesa e, por isso, não deve ser considerado.
Assim,
não consideramos o outro, matamos o outro. E quando se mata o outro,
não há troca. Vivemos então de casamentos entre primos, promovendo
futuras doenças congênitas. A dificuldade de se conviver com o
outro é grande, mas a necessidade de fazê-lo é ainda maior.
***
Posto
isso, digo agora aos que pedem o tal do impeachment:
vocês querem fingir que os 54% de eleitores que votaram na Dilma
simplesmente não existem, ou não devem ser considerados. O mandato
dela é efeito do voto dessas pessoas, e não sua causa. Se ela
deixar o cargo nós não deixaremos de existir, nem mudaremos de
opinião. Vocês não conseguirão, com seus golpes, esculpir a
realidade à sua imagem e semelhança. Porque cê mata uma e vem
outra em seu lugar.
sábado, 10 de janeiro de 2015
ZODAC
Antes de se discutir imprensa ou
religião, temos um crime contra a vida. Essa é a dimensão e o
tamanho da tragédia. Quem mata um homem mata a humanidade. E não há
pessoa sã que não se comova diante de um assassinato brutal e
múltiplo. Não há o que justifique, não há desculpa, não há o
que diminua a dor.
Dito isso, gostando ou não, as
discussões subjacentes à tragédia do Charlie são inevitáveis. E
a lenha está posta na fogueira bélica que confronta ocidentais a
orientais, franceses a argelinos, cristãos a islâmicos.
Mas, se há alguma conclusão possível
desse episódio tão desconcertante, é a de que a realidade não é
binária. Ela é bem mais complexa que uma galeria de personagens de
He-Man, em que bem e mal estão bem definidos.
Não é o que somos que nos diferencia,
é o que fazemos e o que não fazemos. O que define um assassino é o
cometer assassinato, não o fato de ele ser árabe. O francês que
agora quer a volta da pena de morte (da guilhotina, quem sabe?) e o
que vê na tragédia uma oportuna licença para o seu ódio
preexistente aos muçulmanos, esses são iguais ao terrorista. Suas
mentes seguem a mesma lógica: a de que mais violência é solução
para a violência. É a ilusória lógica fascista de que a força
tudo resolve.
Ora, não precisa ser gênio para saber
onde essa lógica leva, basta olhar para este século e ver como a
guerra infinita ao terror tem sido bem-sucedida apenas em criar ainda
mais violência e mais terroristas.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
LIBERDADE
Ele
andava pelo Largo da Carioca ao final da tarde quando se deparou com
a manifestação. Apenas meia dúzia de pessoas com cartazes. Mas
seis pessoas com um alto-falante podem ser bastante incômodas. O que
segurava o alto-falante bradava um discurso furioso contra a
corrupção. O bom do discurso anticorrupção é que, além de
simples, cativa facilmente os ouvintes. Todo mundo é contra a
corrupção, até o corrupto. Por isso, tal discurso funciona bem
como trampolim para outros discursos furiosos.
E foi exatamente isso que o tal sujeito fez. Logo passou do discurso anticorrupção ao discurso furioso contra o comunismo. "Eles agora ensinam nas universidades que o comunismo é bom", dizia. Temendo a tal "ditadura comunista", o manifestante demostrava sua preocupação com a livre difusão de ideias estranhas, diferentes das suas, diferentes do "normal".
“Eles ensinam”, dizia ele, “que você pode ser o que quiser! Que você pode ser 'viado' se você quiser, que você pode ser 'homem' se você quiser!” O bom dos discursos fascistas é que eles não demoram a se perder em seu próprio absurdo. Afinal, por que era tão ruim para ele "poder ser o que você quiser"?
O fato incomodou bastante o passante. "Era só meia dúzia", ele pensava consigo, tentando afastar. Mas meia dúzia, às vezes, têm alto-falante, às vezes têm recursos, ás vezes têm espaço na mídia. Podem mesmo incomodar.
Felizmente, a muitos resta a fé e, no caso do passante, a exótica fé de que nada é por acaso. E o encontro involuntário com o vociferante fascista também não havia de ter sido por acaso. A simples possibilidade de que gente como ele volte a ter comando fez o passante ter um até então inédito apreço pela liberdade.
Ele nunca pensou muito sobre o valor da liberdade, voltando suas reflexões mais para outras virtudes sociais: a fraternidade, a igualdade, a solidariedade, a paz, o amor. Mas a liberdade... Sempre pareceu muito vaga, abstrata, retoricamente manipulável. Talvez por isso ele não tenha lhe dado muito valor. Mas talvez porque ele sempre fora livre, sem perceber.
Esquecendo por um minuto a imprecisão da noção de "opção sexual", não parecia ruim a ideia de que você pode ser "viado" se você quiser. Não, ele não era, nem pretendia ser. Mas se por acaso um dia acordasse meio "viado", ele não seria preso por isso. E isso lhe pareceu bom! Ele era o que a sociedade hétero normativa considerava "homem". E também lhe pareceu muito bom poder ser "homem" se ele quisesse.
Era muito bom ser livre. Era, de fato, muito bom viver em lugar em que se podia ser o que se quisesse, desde que não se fizesse mal a ninguém e se respeitasse as diferenças.
Muitos que, como ele, cresceram depois de 1985 talvez nunca tenham pensado a respeito. Mas, depois de um 2014 de incômodas meias dúzias fascistas, talvez seja mais do que hora de se refletir. Refletirmos como é bom "poder ser o que você quiser". É muito bom poder ser "viado" se você quiser e poder "homem" se você quiser. Poder ser músico de rua, se você quiser e poder ser pastor, se você quiser. Poder ser negro, se você quiser e poder ser mulher, se você quiser. Poder ser romântico, se você quiser e poder ser cético, se você quiser. Poder ser sambista, se você quiser e poder ser roqueiro, se você quiser. Poder ser evangélico, se você quiser e poder ser ateu, se você quiser. Poder ser comunista, se você quiser e poder ser liberal, se você quiser.
E seria mesmo muito ruim não poder escolher.
Aparentemente, nada é mesmo por acaso. E depois de tangenciar por um momento a falta dela, o passante amou a liberdade, e se sentiu muito bem. Era mesmo muito bom ser livre.
domingo, 3 de agosto de 2014
JOIO E TRIGO - UMA LEITURA PROGRESSISTA
A metáfora do joio e do trigo e de “separar o joio e o trigo” costuma frequentar um certo tipo discurso, aquele que separa umas pessoas das outras e estabelece hierarquias entre elas. Tal discurso é contrário às melhores noções de civilização, e que eu evito aqui chamá-lo de reacionário apenas para não soar repetitivo.
Mas voltando ao joio, vem-me à cabeça a fala, anos atrás, da mãe de um suposto criminoso de classe média ou alta. Ela, indignada por seu filho ser tratado igualmente a supostos criminosos pobres, dizia que era preciso separar “o joio do trigo”. E não é de se espantar que o joio, tal qual o inferno, seja sempre o outro.
Tão bem a imagem foi apropriada pelo pensamento conservador, que nos esquecemos que o seu criador foi Jesus. Jesus é a parte mais progressista da Bíblia, se destacando, pelo discurso, da forte tendência conservadora que a religião teve antes e depois dele. Quem conhece a teologia de Jesus pode estranhar que ele tenha dado origem a tal pensamento separador e hierarquizante, suspeitando logo de que se trata de uma interpretação errada da metáfora.
E a suspeita é correta. A parábola do joio e do trigo é breve. Um agricultor plantou o trigo em seu campo e, à noite, seu inimigo contaminou a plantação com joio. Quando um empregado vê o joio crescendo junto ao trigo, indaga ao agricultor se ele quer que o joio seja arrancado. O dono da plantação diz que não, que, por hora, é preciso deixá-los crescer juntos até a colheita, para que, ao separar o joio, não se arranque com ele também o trigo.
Ao explicar a parábola aos seus discípulos, Jesus diz explicitamente que a colheita é a consumação deste século (ou seja, uma realidade fora do mundo material como conhecemos). Jesus não nos mandou separar o joio do trigo. E, não só não mandou, como disse que era preciso deixá-los crescer juntos, para que, ao cortar o joio, não se corte junto com ele o trigo.
Detenhamo-nos, portanto, na esfera secular, em que ainda viveremos por prazo indeterminado (e isso quer se creia, quer se descreia em qualquer horizonte metafísico). Segundo a parábola original, neste mundo, neste século, o mal não poderá ser extirpado da sociedade sem altos custos. Joio e trigo, bem e mal, inocentes e culpados, não poderão ser separados de forma que não seja traumática. Assim, ainda que trabalhemos com a ideia de inocentes e culpados como pessoas distintas, elas não seriam infalivelmente separáveis.
Ao estabelecermos, por exemplo, a pena de morte, sempre estaremos correndo um sério risco de executar inocentes por erro no processo (que ocorrem com mais frequência do que gostaríamos, em qualquer sistema jurídico). Separar o joio do trigo de forma tão irreversível exigiria a infalibilidade dos julgadores (e quiçá a onisciência).
Essa reflexão já dá uma perspectiva diferente da do senso comum à metáfora de Jesus. Mas podemos ainda ir além do maniqueísmo. Joio e o trigo, inocentes e culpados, bem e mal não são pessoas separadas. Estão dentro de cada um de nós. O mal cresce em nós junto com o bem, de modo que não há ninguém totalmente mal nem ninguém totalmente bom. Desse modo, ao eliminarmos um “mau” (por exemplo, pela pena de morte), matamos também o “bom” que existe dentro dele.
Claro que (novamente, quer se creia, quer se descreia) o mal (o que é errado, nocivo, injusto) não é algo com que se deva acostumar passivamente. Mas, aos ávidos por eliminar o joio, fica a sugestão de começar por separá-lo dentro de si mesmos. E com muito cuidado.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
RESPOSTA A E-MAIL REACIONÁRIO
O texto abaixo foi escrito como resposta a e-mail que circula na net, com o título "Dilma - com fotos das vítimas" Peço que leiam com atenção, pois não é conveniente sabermos apenas uma parte da História.
Em primeiro lugar, isto não é campanha para a Dilma (não sei de todas as opções de voto que terei em 2010, e possivelmente não votarei nela). Mas utilizar o argumento de que ela é uma "terrorista de alta periculosidade", "com fotos dos corpos das vítimas", é pura apelação e baixaria. É colocar de lado o debate político e de projeto de governo. Vamos mais aprofundar um pouco essa história.
Em 1964, o Brasil tinha um governo progressista, de João Goulart, que propunha reformas de base que o país precisava para o desenvolvimento social. Jango foi chamado de "comunista" (reparem, mesmo tipo de argumento apresentado pela mensagem anterior) pela direita golpista e acabou derrubado pelos militares (com apoio de civis também, como o jornal O GLOBO, que saudava a "vitória da democracia" após o golpe).
Muitos, inclusive os apoiadores do golpe, acreditavam que era um golpe "para retornar à normalidade", e que haveria eleições em 65. Mas só houve eleições presidenciais novamente 25 anos depois. Aos poucos, os militares davam sinais de que não deixariam o poder. A população começou a se manifestar (como na passeata dos 100.000, em 68, motivada pelo assassinato do estudante Edson Luis). Em 1968 o regime militar decretou o AI-5, fechando ainda mais a ditadura e acabando com qualquer resquício de fachada democrática.
Nesse contexto, alguns opositores da ditadura viram na luta armada a única forma de derrubar o regime. Certos ou errados, esses participantes foram já foram processados. Muitos foram exilados e torturados. Os que não foram processados e condenados, é porque foram mortos pelo regime, e muitos estão desaparecidos até hoje.
Em 1979, quando já começava o processo de abertura política, houve a lei da Anistia "para os dois lados". Os sobreviventes da luta armada foram anistiados de seus crimes. Os torturadores e assassinos da Ditadura, porém, nunca foram sequer julgados, e ainda não sabemos direito a nossa História.
Em 1985, os militares saíram do governo, mas não sem muita luta popular (como nas Diretas Já - não havia só a luta armada na resistência). Em 1989, depois de 28 anos, houve novamente eleições diretas para presidente.
O referido e-mail, no entanto, utiliza os mesmos argumentos da Ditadura. Nas entrelinhas, ele justifica a repressão do regime, pois "Dilma e seus comparsas queriam implantar o regime de Cuba no Brasil" ou "eram financiados por China, Rússia e Cuba" ou alguma babosiera do gênero. Diz que a oposição era muito bem tratada aqui "por isso estão aí vivinhos" (na verdade, há algumas centenas de mortos e desaparecidos). Como critiquei as "fotos dos cadáveres", vou poupá-los de detalhes das torturas cometidas. Mas é bom que sempre nos informemos a respeito, pra ter uma dimensão da gravidade do que aconteceu.
Por fim, é uma sacanagem colocar uma frase de Martin Luther King Jr. em mensagem tão reacionária. Esse grande estadunidense sempre esteve do lado oposto da opressão e nada tem a ver com seus compatriotas que patrocinaram os golpes militares na América Latina.
saudações,
Leandro Murad
Em primeiro lugar, isto não é campanha para a Dilma (não sei de todas as opções de voto que terei em 2010, e possivelmente não votarei nela). Mas utilizar o argumento de que ela é uma "terrorista de alta periculosidade", "com fotos dos corpos das vítimas", é pura apelação e baixaria. É colocar de lado o debate político e de projeto de governo. Vamos mais aprofundar um pouco essa história.
Em 1964, o Brasil tinha um governo progressista, de João Goulart, que propunha reformas de base que o país precisava para o desenvolvimento social. Jango foi chamado de "comunista" (reparem, mesmo tipo de argumento apresentado pela mensagem anterior) pela direita golpista e acabou derrubado pelos militares (com apoio de civis também, como o jornal O GLOBO, que saudava a "vitória da democracia" após o golpe).
Muitos, inclusive os apoiadores do golpe, acreditavam que era um golpe "para retornar à normalidade", e que haveria eleições em 65. Mas só houve eleições presidenciais novamente 25 anos depois. Aos poucos, os militares davam sinais de que não deixariam o poder. A população começou a se manifestar (como na passeata dos 100.000, em 68, motivada pelo assassinato do estudante Edson Luis). Em 1968 o regime militar decretou o AI-5, fechando ainda mais a ditadura e acabando com qualquer resquício de fachada democrática.
Nesse contexto, alguns opositores da ditadura viram na luta armada a única forma de derrubar o regime. Certos ou errados, esses participantes foram já foram processados. Muitos foram exilados e torturados. Os que não foram processados e condenados, é porque foram mortos pelo regime, e muitos estão desaparecidos até hoje.
Em 1979, quando já começava o processo de abertura política, houve a lei da Anistia "para os dois lados". Os sobreviventes da luta armada foram anistiados de seus crimes. Os torturadores e assassinos da Ditadura, porém, nunca foram sequer julgados, e ainda não sabemos direito a nossa História.
Em 1985, os militares saíram do governo, mas não sem muita luta popular (como nas Diretas Já - não havia só a luta armada na resistência). Em 1989, depois de 28 anos, houve novamente eleições diretas para presidente.
O referido e-mail, no entanto, utiliza os mesmos argumentos da Ditadura. Nas entrelinhas, ele justifica a repressão do regime, pois "Dilma e seus comparsas queriam implantar o regime de Cuba no Brasil" ou "eram financiados por China, Rússia e Cuba" ou alguma babosiera do gênero. Diz que a oposição era muito bem tratada aqui "por isso estão aí vivinhos" (na verdade, há algumas centenas de mortos e desaparecidos). Como critiquei as "fotos dos cadáveres", vou poupá-los de detalhes das torturas cometidas. Mas é bom que sempre nos informemos a respeito, pra ter uma dimensão da gravidade do que aconteceu.
Por fim, é uma sacanagem colocar uma frase de Martin Luther King Jr. em mensagem tão reacionária. Esse grande estadunidense sempre esteve do lado oposto da opressão e nada tem a ver com seus compatriotas que patrocinaram os golpes militares na América Latina.
saudações,
Leandro Murad
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