Àquela altura, já era óbvio que ele estava sonhando e, nesse raro estado de consciência, notou como as coisas e as cores eram nítidas, vibrantes e reais, muito diferentes de suas versões desbotadas que sobrevivem na memória, depois que se acorda.
Uma outra informação da memória desperta, porém, confirmava-se:
as ruas eram ali as mesmas do mundo real, mas seus detalhes eram diferentes.
Logo, não foi surpresa quando, avançando por aquela rua, deparou-se com um
túnel que só deveria existir na rua paralela de cima.
Julgou por bem seguir pelo túnel, e quem sabe chegar à sua
casa que, no mundo real, ficava na outra saída do mesmo túnel, ainda que na
outra rua. Seguiu pelo canto da ciclovia, entre os carros e a passagem de
pedestres, pois nesta, como de costume, pessoas se abrigavam. Mas não chegou a
encontrar o outro lado, pois o túnel ali terminava em um imenso paredão natural
de pedra.
Ainda processava a situação quando o paredão se abriu,
revelando uma parede de aço, cuja fenda vertical, no seu centro, também logo se
abriu. Uma nova muralha de aço, esta fechada horizontalmente, surgiu, e também
se abriu, dando lugar a uma terceira parede de aço, igual à primeira. Sua fenda
vertical se abriu e ele finalmente pode entrar.
Estava agora em uma sala de escritório. À sua frente, no
fundo da sala, havia uma mesa, com papéis mais ou menos organizados sobre ela.
Após uma breve hesitação, resolveu examinar os documentos. Afinal, se ele fora
levado até ali, deveria ser para descobrir algo importante. Entre as muitas
frases sem conexão aparente, uma chamou sua atenção:
“A revolução é as pessoas se tratarem como irmãos.”
Interrompeu sua investigação ao perceber que um homem estava agora sentado à mesa, na sua frente. Aparentemente era o dono da sala. Encabulado por ter sido pego em sua intrusão, o homem disse, sem jeito:
– Desculpe, não sabia que você estava aqui.
Ao que o outro homem respondeu, achando graça:
– É, eu entrei agora, pela porta.
– Ah... E eu vim sonhando. - disse o intruso, tentando soar
natural.
A sala logo se encheu de mais umas três pessoas, que
pareciam prestes a iniciar uma reunião.
Vendo que não tinha mais o que fazer ali, o viajante se
escusou:
– Bem, vou deixar vocês agora. Já está na hora de eu acordar
para o trabalho.
Fechou os olhos por um momento, fazendo força para acordar. Como
nada aconteceu, percebeu que não era bem assim que a coisa funcionava. Mas,
antes que pudesse tentar outra coisa, sem nada fazer, ele acordou em sua cama.
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