sexta-feira, 15 de junho de 2018

IDOLATRIA ANTIGA E CONTEMPORÂNEA

“Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
Não terás outros deuses diante de mim.
Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás a elas nem as servirás (...)”
(Ex 20: 2-6)

Mas...

Um ídolo não é necessariamente uma escultura, e uma escultura não é necessariamente um ídolo.

- Ídolo é tudo que ocupa o lugar de Deus

E qual é o lugar de Deus?

“É a sua preocupação última”. Paul Tillich
- A preocupação mais profunda, aquela que, retiradas todas as outras que estão mais à superfície, permanece.
- É onde você coloca: a sua felicidade, a sua confiança, a sua esperança. Esse é o seu Deus, o seu tesouro.
“Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6:21).

Coisas que, em si, são boas (ou não são boas nem ruins) podem assumir o caráter de ídolo: pessoas, hábitos, valores, preocupações, dinheiro, trabalho, e até a religião. O problema não são as coisas, e sim a dimensão que elas tomam em nossas vidas: a sua devida dimensão ou a dimensão de deuses.

  1. Pessoas
Se amarmos ao próximo como a nós mesmo, Deus estará acima de todas as coisas. Se amarmos ao próximo mais do que a nós mesmos, ou estamos amando demais o próximo (e ele se torna nosso ídolo, sem o qual não podemos viver), ou amamos de menos a nós mesmo (déficit de autoestima). Se amarmos a nós mesmos mais que ao próximo, o nosso ídolo é o próprio ego.
  1. Dinheiro / Trabalho
O trabalho se torna um ídolo se deixamos de trabalhar para viver e passamos a viver para trabalhar. O dinheiro se torna um ídolo se deixamos de ganhar dinheiro para viver e passamos a viver para ganhar dinheiro. Não podeis servir a Deus e a Mamon (Mt 6:24).
  1. Hábitos
Nossos hobbies, paixões, prazeres, manias, coleções e consumo tomam a dimensão de ídolos a partir do momento em que assumem um caráter compulsivo. Um hábito não é algo ruim, o problema é não conseguir viver sem ele. A chave para sair da compulsão é entender que liberdade não é ter tudo. Liberdade é:
Pensamento -> Decisão -> Responsabilidade
Pensar é pesar. A cada escolha, pesamos as opções e decidimos: cindimos! Separamos o que é nosso do que não é. E nos responsabilizamos pela decisão: pelo que foi preferido e pelo que foi preterido. O antídoto para a compulsão é o foco no nosso caminho.
A compulsão existe quanto não conseguimos escolher. Queremos todas as roupas, todos os brinquedos, todos os amores. Queremos tudo, mais do que conseguimos lidar, e assim saímos dos nossos limites humanos, nos fazendo deuses. Também, aqui, o ego se torna um ídolo.
  1. Valores
Um ídolo é aquilo que tornamos absoluto. Apenas Deus é absoluto. Nossos valores são bons e importantes em nossas vidas, eles nos fazem pessoas íntegras. Mas eles não servem necessariamente para todas as pessoas em todas as épocas. Por vezes, eles podem estar equivocados, pois somos humanos e falhos. Se tornamos nossos valores absolutos, nos fazemos perfeitos, e nosso ego se torna um ídolo.
  1. Religião
Se nosso sonho é fazer que nossa religião domine o país ou o mundo, não importando o quanto de sua essência terá de ser abandonada pelo caminho, nossa religião se tornou nosso ídolo, e Deus ficou em segundo plano.
Nossos ritos religiosos, ainda que bons e edificantes em essência, também podem se tornar talismãs. Se eu leio a bíblia todos os dias antes de sair de casa, e um dia por um acaso eu não posso fazê-lo, isso não quer dizer que eu fiquei devendo uma leitura. Em Cristo não há nenhuma dívida.
  1. Preocupações
É saudável nos preocuparmos com o que está em nossas mãos. Aquilo com que podemos lidar, nossa parte no plano de Deus, isso fazemos. São os nossos velhos conhecidos, o jugo suave e o fardo leve. As preocupações que não estão em nossas mãos, essas devemos colocar no altar de Deus e descansar nosso coração. Esse altar é infinito, nele cabem todas as coisas.
Se assumimos preocupações que estão além das nossas forças, não respeitamos nossos limites humanos. Por mais nobres que sejam os motivos, estaremos aqui também querendo nos fazer deuses.
Em suma, o que está em suas mãos fazer, faça e descanse. O que não está em suas mãos, entregue a Deus e descanse.

Como escapar da idolatria?

“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes”.
(Mc 12:30-31)

Para cumprir o Grande Mandamento, não é preciso fazer esforço nenhum, apenas abrir o coração para Deus. Ele, então, derrama sore nós o Seu amor (Rm 5:5), e esse amor ocupa todas as dimensões do nosso ser.

Coração – Dimensão Espiritual
Alma – Dimensão Psíquica
Entendimento – Dimensão Intelectual
Forças – Dimensão Física

Mesmo quando estamos fracos, em Deus, somos fortes.
Portanto, abandonemos a culpa e coloquemos em seu lugar um sentimento muito mais benéfico: a gratidão. Sejamos gratos a Deus por errar, porque Ele nos mostra nossos erros, por podermos aprender com eles e ensinar o próximo com a nossa experiência.

Em resumo, para não cair na idolatria, não é preciso fazer nada, apenas relaxar e confiar em Deus. Ele não permitirá que o teu pé vacile (Sl 121:3).

Por fim, a ideia de que mesmo um crente pode está sujeito à idolatria pode despertar em nós sentimentos como medo e culpa. Não caiamos nesses sentimentos negativos, pois o caminho é justamente o oposto.
Estamos sujeitos à compulsão e à idolatria porque somos humanos e, portanto, falhos. Todos temos nossos momentos de versículo 1 do salmo 121: estamos sujeitos a fraquejar. Querer não errar é querer ser Deus, é se colocar no lugar de Deus e, novamente, cair na idolatria.

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