A ideia de fim do mundo desperta medo no coração das pessoas. É natural que seja assim, mas, para aqueles que associam a consumação dos séculos à volta de Cristo, não deveria tal acontecimento trazer conforto? E, no entanto, o pavor do fim dos tempos é ainda mais agudo entre os crentes. Nesse meio, o que se observa muitas vezes é um alarmismo, como se uma árdua “preparação” fosse necessária. A partir daí, o risco de se adotar uma postura neurótica em relação à vida é enorme. Ou seja, por mais que se faça, a pessoa pode sempre se achar em dívida diante do Juízo Final.
Para saber se tanto desespero se justifica à luz das escrituras, vamos examinar o que o próprio Jesus disse sobre o assunto, no Evangelho segundo Mateus. Este estudo não se propõe a analisar toda a riqueza do sermão profético. Nosso foco é o ensinamento sobre a postura prática desejável aos cristãos, com vistas à volta de Cristo.
1-
Não se deixe enganar.
Em
Mateus 24, os discípulos perguntaram a Jesus sobre sua vinda e o fim dos tempos.
Ao responder, sua primeira preocupação foi preveni-los quanto à ação de
enganadores.
4.
E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane.
5. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.
5. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.
(...)
11.
levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos;
(...)
23. Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo Ali! Não acrediteis;
24. porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.
(...)
26. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa!, não acrediteis.
23. Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo Ali! Não acrediteis;
24. porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.
(...)
26. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa!, não acrediteis.
De
fato, o medo excessivo do fim do mundo expõe o crente a ser enganado por falsos
profetas. Não cair no charlatanismo é a primeira lição do Sermão Profético.
“Eis que de antemão vo-lo tenho dito”, completa Jesus. Não temos, pois,
desculpa para nos deixar prejudicar por aproveitadores da fé.
2-
Desgraça e caos não necessariamente significam fim dos tempos.
Em
segundo lugar, Jesus nos acalma em reação a acontecimentos caóticos à nossa
volta. Quem nunca ouviu algo como “tem tanta coisa ruim acontecendo, será o fim
do mundo”? Não, diz Jesus, não será o fim do mundo, apenas o princípio das
dores. Olhai não vos perturbeis; porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda
não é o fim.
6. E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim.
7. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares,
8.
porém tudo isto é o princípio das dores.
3-
O bom proceder em meio ao princípio das dores
12.
e, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos.
13. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.
13. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.
Iniquidade
é injustiça, maldade. O que, de fato, assistimos o tempo todo no mundo
contemporâneo, ainda que não seja novidade de nossa época. Viver neste mundo é
viver em meio à dor.
E
temos a tendência natural de reagir à dor com agressividade, a responder à
violência com violência. A dor da iniquidade, da injustiça, faz com que o amor
se esfrie em nós. Mas quem perseverar no amor, apesar de toda a iniquidade,
será salvo.
A
salvação é justamente essa: que a chama do amor permaneça acesa em nós. E para
que o amor não se esfrie, é preciso manter-se calmo, mesmo diante da
iniquidade.
Como
disse Jesus, os revezes da existência, mesmo os grandes, não são o fim. Então,
temos de aprender a conviver com eles pelo tempo que for necessário. Quanto ao
fim...
4-
Nem perca tempo tentando descobrir quando, porque ninguém sabe.
36.
Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o
Filho, senão o Pai.
(...)
42.
Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor.
43.
Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão,
vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa.
44. Por isso ficai também vós apercebidos; porque à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá.
44. Por isso ficai também vós apercebidos; porque à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá.
Se
soubéssemos a hora, era só ficaríamos esperando. Mas não sabemos, então temos
de vigiar. Isso quer dizer que ficar em estado de alerta o tempo todo? Não,
porque...
5-
Vigilância não é falta de descanso.
Na
parábola sobre o pai de família, Jesus deixa claro que este não sabe a que
horas o ladrão vai chegar. Ora, sendo assim, melhor faz ele em ir dormir. Mas
como? A parábola, afinal, é uma exortação à vigilância!
Disso,
então, só podemos inferir que vigiar não é ficar alerta o tempo todo, algo
humanamente impossível. Lutar contra nossas limitações, descuidando da própria
saúde física e mental, é uma forma de errar o alvo.
Vigiar
não é querer controlar tudo, mas entregar o controle a Deus. Desse modo, o dono
da casa poderá dormir tranquilo e, quando Jesus chegar (aqui o ladrão é Jesus)
encontrá-lo-á vigilante, mesmo que esteja dormindo.
6-
O bom proceder com vistas ao fim do mundo.
No
final de Mateus 24 e em todo capítulo 25, Jesus contrapõe o bom e o mau
proceder diante de sua volta. São quatro passagens: as parábolas do bom servo e
do mau, das dez virgens e dos talentos e a descrição do Grande Julgamento.
Fiel
e prudente x Mau e hipócrita
Na
parábola dos dois servos, o bom servo é aquele que, mesmo na ausência de seu
senhor, faz o que este lhe confiou: dar a seus conservos o sustento a seu
tempo.
Assim,
pois, o somos, conforme praticamos espontaneamente o amor, dividimos o pão, o material
e o espiritual, a comida e o conhecimento. “A seu tempo” também deve ser destacado: é uma medida de equilíbrio,
pois ninguém pode nem deve trabalhar o tempo todo. O jugo deve ser suave, e o
fardo, leve.
O mau servo é aquele que espanca os seus
companheiros e passa a comer e beber com ébrios. Podemos entender por
embriaguez tudo aquilo que consome tanto nossa atenção e nossas energias a
ponto de nos desviar do que é mais importante (dar ao próximo o sustento a seu
tempo).
O servo mau é descrito como hipócrita, pois possivelmente
faria o bem aos olhos do senhor, mas na ausência dele, se inclina para o mau e
para o próprio ego.
45. Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem
o senhor confiou os seus conservos, para dar-lhes o sustento a seu tempo?
46. Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
47. Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens.
48. Mas se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu senhor demora-se,
19. e passar a espancar os seus companheiros e a comer e beber com ébrios,
50. virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera e em hora que não sabe
51. E castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.
46. Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
47. Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens.
48. Mas se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu senhor demora-se,
19. e passar a espancar os seus companheiros e a comer e beber com ébrios,
50. virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera e em hora que não sabe
51. E castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.
Sábias x Néscias
Na parábola das dez virgens, estas esperam o noivo, que tarda a
chegar. Ao final, Jesus (aqui, o noivo) leva consigo apenas cinco delas, as
prudentes.
1. Então, o reino dos céus será
semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se
com o noivo.
2. Cinco dentre elas eram néscias,
e cinco, prudentes.
3. As néscias, ao tomarem as suas
lâmpadas, não levaram azeite consigo;
4. no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas.
5. E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram.
6. Mas, à meia-noite, ouviu-se um
grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro!
7. Então, se levantaram todas
aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas.
8. E as néscias disseram às
prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se
apagando.
9. Mas as prudentes responderam:
Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem
e comprai-o.
10. E, saindo elas para comprar,
chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e
fechou-se a porta.
11. Mais tarde, chegaram as virgens
néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta!
12. Mas ele respondeu: Em verdade
vos digo que não vos conheço.
13. Vigiai, pois, porque não sabeis
o dia nem a hora.
O texto mostra mais uma vez que o conceito de vigilância não é
ficar alerta o tempo todo. Repare que as prudentes também dormiram! O que as
diferencia não é o dormir ou não dormir, mas o azeite nas vasilhas, para manter
as lâmpadas acesas. O que é o azeite?
O temor de Deus
O temor de Deus não é ter medo de Deus. É ter intimidade com Deus,
entregar a ele o controle. Vigiar é estar na presença de Deus. Esse é o azeite para
nossas lâmpadas, combustível que garante que nossa luz não se apague. Vigiar é
viver em oração, é estar com o coração perto de Deus. Isso é o que nos faz
proceder bem, ajudando nosso próximo, mesmo quando estamos descansando ou
distraídos, mesmo sem perceber ou se preocupar em fazer o bem por estar sendo
observado. O temor é uma postura de respeito e de consideração: considerar Deus
enquanto Deus, amor e sabedoria absolutos. A relação que se estabelece a partir
dessa consciência é de carinho, amparo e confiança, e não de medo.
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x Enterrar talentos
14. Pois será como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens.
15. A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e, então, partiu.
16. O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a negociar com eles e ganhou outros cinco.
17. Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois.
18. Mas o que recebera um, saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor.
19. Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles.
20. Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei.
21. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
22. E, aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: Senhor, dois talentos me confiaste; aqui tens outros dois que ganhei.
23. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
24. Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste,
25. receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
26. Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?
27. Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu.
28. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez.
14. Pois será como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens.
15. A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e, então, partiu.
16. O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a negociar com eles e ganhou outros cinco.
17. Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois.
18. Mas o que recebera um, saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor.
19. Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles.
20. Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei.
21. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
22. E, aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: Senhor, dois talentos me confiaste; aqui tens outros dois que ganhei.
23. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
24. Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste,
25. receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
26. Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?
27. Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu.
28. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez.
Aqui, há novamente duas atitudes contrapostas: compartilhar os
talentos que nos foram dados, multiplicando-os, ou enterrar o nosso talento.
É Deus quem dá o talento, a capacidade e as condições para
trabalhar. O talento é conferido a cada um em única medida. E Deus pede a cada
um somente segundo as suas possibilidades. É possível e desejável exercer esse
talento de forma espontânea, natural, sem medo e nem sacrifício, antes, na
medida do prazer. Entre os três servos a quem foram confiados talentos, aquele
que se alarmou e teve medo de Deus foi justamente o que acabou não utilizando
seu talento.
Enxergar x Ignorar o próximo
Por fim, Jesus descreve o grande julgamento em que, novamente, o
bom e o mau proceder são contrapostos. As palavras da passagem são mais que
conhecidas. Em suma, terão procedido bem com Jesus aqueles que fizeram bem ao
seu próximo. Igualmente, a seguir, o mau proceder diante de Jesus é explicitado
como o ter ignorado o próximo.
34. Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos
está preparado desde a fundação do mundo.
35. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes
de beber; era forasteiro, e me hospedastes;
36. estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e
fostes ver-me.
37. Então, perguntarão os
justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com
sede e te demos de beber?
38. E quando te vimos
forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos?
39. E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar?
40. O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que,
sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Aqui, deve ser destacado o fato de que aqueles que fizeram bem ao
próximo e, consequentemente, a Jesus, não o fizeram com o objetivo de receber
recompensa. Aliás, como vemos nos versículos 37 a 39, eles nem perceberam que
fizeram o bem, pois fizeram espontaneamente. Não fizeram o bem por medo do
juízo final, mas porque era bom fazê-lo.
Conclusão:
Vigiar é estar na presença de Deus. A partir daí, espontaneamente,
daremos ao nosso próximo, a seu tempo, o sustento. Utilizaremos nossos talentos
de forma sábia, na medida de nossas possibilidades. Repartiremos o pão material
e o espiritual com quem tem fome e sede, seja de comida, de bebida, de amor ou e
de conhecimento. E descansaremos tranquilos, sabendo que Deus está no controle.
O bom proceder com vistas ao fim do mundo é, afinal, o mesmo bom
proceder com vistas à continuidade da vida. Porque o porvir é apenas a
continuação do que começa aqui, do governo de Deus que está no meio de nós.
Sem necessidade de ter medo, vivamos pois em alegria. Pelo tempo
que só Deus sabe, pois só a Ele cabe saber.